4 de jun. de 2007

Tarde demais, Lula

Onde está Celso Amorim? A pergunta pode parecer esdrúxula, mas é que quem escreve sobre esse rame-rame da política acaba sentindo falta dos personagens mais assíduos da trama (no bom sentido). E Amorim não poderia nos faltar numa hora dessas.
São tantas emoções em torno de Silas Rodou, Jacques Wagner, Mangabeira Unger, Renan Calheiros e companhia, que por um instante pode até surgir a dúvida: quem é o chanceler do segundo governo Lula?
Quem foi para o lugar de Amorim na reforma ministerial? Marco Aurélio Garcia? Samuel Pinheiro Guimarães? Ciro Gomes?
Não, nenhum deles. Amorim, o homem da ofensiva terceiro-mundista de Lula, o artífice da revolução sul-sul, continua lá, na mesma cadeira. Permanece como um dos mais importantes entre os ministros decorativos, desses que têm a função de fazer os brasileiros acharem que estão em plena revanche contra o mundo neoliberal.
O chato é não se ter notícias de Celso Amorim nessas horas em que surgem os abacaxis chavistas. O presidente da Venezuela disse que os senadores brasileiros, que repudiaram o fechamento da RCTV, comem na mão dos americanos. Lula reagiu dizendo que quem cuida do Brasil é ele, e Hugo Chávez deve cuidar da Venezuela. Está certíssimo. Melhor ainda seria se Lula, Celso Amorim e companhia nacional-bolivarista tivessem pensado nisso antes.
Agora ficou tarde. O presidente brasileiro já ciscou demais no quintal venezuelano para poder dar gritos de soberania. Lula, inspirado por Amorim, Marco Aurélio Garcia, Tarso Genro, Pinky e Cérebro, ciscou em tudo quanto é quintal sul-americano.
Se meteu na eleição boliviana, apoiando aquele índio bufão que saiu confiscando os investimentos brasileiros no país. Meteu a colher na Argentina, apoiando o neopopulista Kirschner e sua pantomima do calote generalizado. Tomou partido na Venezuela, apoiando ostensivamente o projeto autoritário de um dos estadistas mais primitivos do mundo contemporâneo.
Ou seja: Lula rodou sua bolsinha esquerdista por tudo quanto é esquina onde Amorim, Pinky e Cérebro lhe apontavam promessas de propagação da “onda vermelha”, “revolução bolivarista” ou qualquer bobagem nessa linha.
Agora, caro presidente, não dá mais para bradar que “do Brasil cuido eu!”. O senhor autorizou o mundo inteiro a cuidar do Brasil, a se meter no Brasil, a bisbilhotar o Brasil, porque o senhor foi bisbilhotar a democracia dos outros, e se meter no direito soberano de outros povos de escolherem seus representantes.
Ainda bem que Celso Amorim não inventou algum tipo de conexão Bagdá. Ao menos o bombardeio contra o Congresso Nacional continua sendo apenas uma metáfora.

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